São Paulo, 1926, quadro de efervescência cultural, política e social, que conflagra embates decorrentes da difusão de valores modernos em uma sociedade ancestral e conservadora. É nesse ambiente que uma jovem professora, íntegra e idealista, Nina (Regina Duarte, estreando brilhantemente no horário, fazendo sua primeira personagem transgressora e voluntariosa, além de iniciar o rompimento com o adocicado e limitador rótulo de “Namoradinha do Brasil”, e voltando às novelas depois de três anos afastada, período em que se dedicou ao teatro e cinema), transfere-se do interior para a capital, contratada de um conceituado e rígido colégio particular feminino. Com pouco tempo de magistério, entra em choque com as demais professoras do educandário, em particular com a inflexível Dona Angélica (Sônia Oiticica, ótima, podendo-se dizer a atriz-fetiche de Avancini!) e, principalmente, com o diretor e proprietário do estabelecimento, o austero e oportunista Dr. Lourival (José Augusto Branco, muito bem como o vilão que persegue Nina), ao tomar conhecimento que uma menina, de oito anos, Isadora (Isabela Garcia), filha de artistas, teve sua matrícula recusada no estabelecimento em razão de sua origem. Nada ingênua, Nina contesta e se rebela contra as reacionárias normas do colégio e a partir daí se estabelece um atrito ferrenho entre as duas partes, e que se agrava ainda mais quando, mais adiante, outra aluna, Maria Eugênia (estréia de Cristina Mullins, na Globo), é assassinada misteriosamente e as suspeitas recaem sobre a inconformada professora, que perde o emprego, é presa e vive o tormento de provar sua inocência. Nessa segunda fase, de teor um tanto policialesco, Nina se vê obrigada a cortar os cabelos “à la garçonne”, que era moda entre as mulheres mais avançadas dos anos 20 – ou então as marginalizadas!


Um cabaré muito agitado, alegre e colorido! No meio de tantos núcleos interessantes e distintos, certamente o mais charmoso era um café-concerto, que dava o tom musical à novela e onde se apresentava regularmente “A Lyra das Mimosas”, um grupo mambembe composto por cinco atrizes-vedetes-bailarinas, da Companhia de Madame Naná (Elza Gomes, sensacional, como sempre), uma velha atriz decadente e patética. Suas mimadas “mimosas” eram Doralda (Maria Cláudia, muito bonita e perfeita no papel de uma estrela analfabeta, porém esperta), Chiquinha (Lucia Alves), Mazinha (Marilia Barbosa, graciosa, tanto como atriz quanto como cantora), Geni (Maria Helena Velasco) e Iracema (Ana Maria Nascimento e Silva). Além de ser também o espaço mais freqüentado pelos personagens masculinos, principalmente o ruidoso e inflamado grupo de estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, composto por João Claudio (Mario Cardoso), Clemente (Lauro Góes), Afrânio (Paulo Ramos) e Clóvis (Vanísio Mello).

Havia também o ladino Fialho (Ary Fontoura, protocolar), um diretor-camera man de cinema, permanentemente às voltas com as dificuldades de realizar o grande filme da sua vida, todo ele filmado em locações externas. No processo, se envolve com a atriz protagonista, a cândida Mimi (Maria Zilda Bethlem), prometendo-lhe mundos e fundos, e sempre às turras com o seu ator, o dissimulado Alvinho ou “Anjo” (Fabio Junior, em sua primeira novela, revelando desenvoltura cômica, travestido de mulher), resultando em situações divertidas e de puro nonsense.

A interferência constante da Censura Federal, retalhando tantos capítulos, frustrava o elenco, produção e direção. Os atores gravavam a novela sem muito estímulo, mas assim mesmo colheram frutos saborosos, como por exemplo: a rigorosa e prestigiada APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) concedeu os prêmios de 1977, como melhores atores, de tevê, a Antonio Fagundes, que dividiu as honrarias com Mario Lago e à Rosamaria Murtinho, o de melhor atriz! Palmas para “Nina”! Apesar de tantos contratempos, indiscutivelmente trata-se de uma novela que ficou na memória e retina de quem a assistiu.
Curiosidades
- O elenco de Nina estava escalado para "Despedida de Casado", trama que foi vetada pela Censura Federal por tratar de separação de casais. Assim como Nina, Despedida de Casado era da autoria de Walter George Durst e seria exibida às 22h.
- Nessa novela, Regina Duarte foi se despedindo da imagem de "a namoradinha do Brasil" que seria definitivo em Malu Mulher, um ano depois.
- Rosamaria Murtinho foi premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte por sua atuação como Arlete
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